É preciso uma vila inteira para promover um álbum, e na terça-feira antes do Dia de Ação de Graças, Mariah Carey estava com pelo menos 10 pessoas com ela ao chegar ao Electric Lady Studios, em Nova York. Tinha um maquiador e um cabeleireiro, uma empresária e um jornalista, um advogado e o que pode ser um guarda-costas, e um outro grupo inteiro de pessoas que são difíceis de alocar. Mariah é alta e estava usando botas pretas de salto alto e perfeitamente produzida, com o cabelo mais chapado que eu já vi na vida, dois brincos brilhosos de argola e um sorriso iluminado. Todos estão de bom humor, como uma equipe esportiva vencedora no vestiário.
Embora este seja o tipo de infra-estrutura necessária para celebridades no século 21, isso é apenas a fachada. Quando as coisas se acalmaram, Mariah e eu descemos para uma sala silenciosa no estúdio de gravação para uma discussão sobre vida e música. A mãe de dois filhos, coloca os pés na mesinha de centro, pede vinho tinto para nós e, no meio de nossa entrevista, pede a empresária uma fatia de pizza, que já havia sido pedida por sua equipe. Ela queria um pedaço de calabresa, mas não sobrou nada, então ela come uma fatia simples, equilibrando-a em suas unhas pintadas de rosa.
Quando você pensa em Mariah, você provavelmente tem uma imagem de uma diva cravejada de diamantes, e embora ela pareça estar usando algumas jóias caras (dois anéis de borboleta em seus dedos – um dourado, um prateado – brilhando na luz), ela é acolhedora e descontraída aqui no estúdio, ansiosa e empenhada quando fala sobre o cuidado que ela toma em sua arte. É algo que ela nem sempre teve a chance de discutir, já que seu nível de fama muitas vezes inspirou mais perguntas de repórteres sobre sua vida amorosa do que seu processo de composição.
Sim, ela tem sido notavelmente famosa por quase 30 anos, e sim, ela teve 18 singles nº 1 na Billboard Hot 100. Mas ela também escreveu a maioria dessas músicas, o que não tem sido apenas uma decisão de negócios inteligente, mas uma chave para sua consistência. As músicas de Mariah Carey sempre soam como músicas de Mariah Carey, porque elas são sempre músicas de Mariah Carey. Sua música está mais sólida do que nunca em seu 15º álbum, Caution, sua preferência pelo mid-tempo é uma constante em um mundo que muda de tendência com uma velocidade crescente. Ela tem uma compreensão incomum do que combina com sua voz, que às vezes se estende por até oito oitavas, permitindo que ela acerte o registro celestial de apito.
Em um clássico de Mariah como “Always Be My Baby”, de 1996, há uma doçura, e muitas de suas letras ao longo dos anos invocam uma fantasia doce e heróis e borboletas e príncipes encantados. Mas ela também é ótima quando quer dar o fora em alguém, como ela mostra em Caution e em sua faixa, “GTFO”, que é uma clara canção de rompimento. O álbum é legal, confiante e sexy, estável em seus prazeres, com colaborações de destaque com Ty Dolla $ign na suntuosa “The Distance” e com Dev Hynes de Blood Orange na ágil “Giving Me Life”. E depois há “Portrait”, o momento de introspecção que Mariah faz questão de ter em todos os álbuns, e que aqui aponta para os altos e baixos de uma vida vivida no brilho do olhar do público. “Para onde eu vou daqui?” Ela pergunta na música. “Como eu desapareço?”.
Mas só porque ela pode ser séria não significa que o aspecto diva mais frágil de sua imagem não seja importante para ela. No momento em que as celebridades estão ganhando ao mostrar o quanto são reais no Instagram, há algo fabulosamente escapista – sobre a pessoa maior que a vida que Mariah exala. Ela às vezes usa “nós” quando se refere a si mesma e é eternamente imortalizada em memes e GIFs – melodramaticamente pegando em seus óculos escuros – com suas proclamações e preferências por palavras como “moments” e “daaahhhhling”, que são um prato cheio para as pessoas que vivem na internet. E ela sabe disso. A mãe dela era uma cantora de ópera – a definição original de diva – e Mariah me diz que ela se diverte tanto quanto nós, brincando os aspectos exagerados da personalidade.
Ela é uma guerreira também. Ela teve uma infância difícil, que incluía pouco dinheiro e o divórcio tumultuado de seus pais. Ela também sempre teve a impressão, como uma criança birracial, de que ela era uma verdadeira intrusa, um sentimento que perdurou na idade adulta. Quando adolescente, ela foi envolvida em um contrato com a Sony (que seu então ex-marido, Tommy Mottola, comandava), que a ajudou a se tornar uma superestrela, mas restringiu suas liberdades, criativas ou não.
Demorou muito para que ela conseguisse quebrar o contrato, com o subsequente álbum de 1997, Butterfly, agindo como uma declaração de libertação. Ela teve que se reinventar várias vezes, inclusive após o fracasso de sua estreia no filme de 2001, Glitter, e sua trilha sonora. Ela então se recuperou com um dos maiores sucessos de sua carreira, “We Belong Together”, de 2005. Há duas semanas, ela riu por último quando a trilha sonora de Glitter saltou para o primeiro lugar nas paradas do iTunes, depois que seus fãs organizaram uma campanha #JusticeforGlitter . Neste ponto, parece que até os flops dela são hits.
Em uma indústria que constrói suas estrelas mais gloriosas apenas para destruí-las, Mariah ainda é uma fonte confiável de alegria e felicidade para muitos. Ela é uma instalação pop tranquilizadora embutida em toda a nossa psique – entre visões de velas de aniversário sendo sopradas e cantigas de ninar -, mas ela também é um ser humano aqui bem na nossa frente, uma voz calorosa que sempre soa bem .
Pitchfork: Muitas de suas músicas têm uma pegada que remete sua infância, incluindo “8th Grade” neste novo álbum. Por que você sempre gosta de revisitar essa época?
Mariah Carey: Isso não é uma música feliz. “8th Grade” foi um dos pontos mais baixos da minha vida. Um ano antes dessa época, eu tinha pintado meu cabelo de laranja por engano. Eu depilei minhas sobrancelhas. Eu não tinha roupas. Alguém uma vez disse no corredor para mim na escola: “Ah, ela conseguiu usar três vezes a mesma camisa.” Era mortificante. Mas isso é porque minha mãe escolheu morar em bairros predominantemente brancos, onde as pessoas tinham mais dinheiro do que nós, e eu não me encaixava lá. Ou em um bairro todo negro quando meus pais estavam juntos; como um casal misto, eles tiveram problemas lá. Então não havia um lugar seguro. Mas “8th Grade” também sou eu dizendo “Oh, meu Deus, eu gosto desse garoto, e ele não gosta de mim. Esse é o fim do mundo!”. Você conhece esse sentimento. Quando estávamos escrevendo essa música, eu tinha essa coisa melancólica em mim e ainda parecia jovem. Só eu sei o que senti.
Como foi sua infância?
Foi muito difícil. As pessoas realmente não sabem disso porque eu sempre fui muito vaga, mas aludi a isso em certas músicas. “Close My Eyes” de Butterfly fala sobre isso: “I was a wayward child with the weight of the world that I held deep inside/Life was a winding road, and I learned many things little ones shouldn’t know”. Muitas coisas intensas aconteceram comigo quando eu era criança, que pessoas que cresceram com dinheiro ou com famílias que não eram completamente disfuncionais nunca entenderão. E ainda por cima ser birracial era a cereja do bolo, e não ter lugar para realmente se encaixar.
Você postou uma foto com Colin Kaepernick recentemente, e as pessoas fizeram comentários idiotas como: “O que ela sabe sobre isso? Ela é branca.
Isso foi quantos anos atrás? Esse nível de ignorância. Quando você tem um pai negro e as pessoas te chamam de branca, e daí as pessoas brancas dizem: “Mas o pai dela é negro”, é muito difícil. As pessoas não entendem. É realmente um lugar difícil de estar.
O rádio foi uma fuga para você quando criança, certo?
Sim. Eu ficava tipo “Sabe de uma coisa? Um dia eu vou ouvir minha música no rádio, e isso será um acontecimento”.
Eu li que você literalmente costumava se esconder embaixo das cobertas com um rádio.
Huuuummm…quando eu era uma garotinha. Muito pequena. Com uns 3 anos.
Quais eram as músicas que você ouvia então?
Provavelmente algo do Jackson 5. Eu amava o pequeno Michael.
Antes de você estourar, você viveu em Nova York e trabalhou como garçonete por um tempo, certo?
Aos 18 anos, saí de casa e estava morando na cidade. Fui garçonete na South Street Seaport. Acabei morando com uma garota na Upper West Side. Ela tinha dois colegas de quarto. Era um loft, mas não chegava nem perto do tamanho dessa mesa de mixagem [ela aponta para a mesa no estúdio]. Era metade do tamanho dessa mesa. Eu tinha que subir no balcão da cozinha para entrar no loft. E ainda pagava 500 Dólares por mês por esse pequeno espaço.
Você era muito festeira em Nova York?
Não. Eu nem mesmo bebia.
Você queria ser famosa?
Eu queria ser bem sucedida. Eu não queria mais me preocupar com a falta de apoio financeiro.
Você estipulou desde o início que você cantaria músicas que você mesma escreveu. Como você sabia que era uma boa ideia?
Eu tinha visto documentários sobre os Beatles vendendo suas composições, ou tendo elas roubadas. Eu sempre escrevi músicas e, quando eu tinha cerca de 18 anos, me ofereceram 5.000 dólares por toda as minhas músicas e eu pensei: “Não”. Todas essas músicas, acabaram se tornando hits em 1º lugar nas paradas mais tarde, depois do meu contrato. Eu estava cantando para Brenda K. Starr, e ela falava: “Sabe de uma coisa, Mariah? Eu quero cantar algumas de suas músicas. Vou colocá-las no meu álbum”. Eu ficava tipo “Sabe de uma coisa? Eu te amo e obrigada por me contratar, mas eu vou manter minhas músicas”. Eu apenas acreditei nelas.
Você perdeu alguma coisa sendo inserida na indústria musical tão jovem?
Eu perdi muitas coisas e fui enormemente abençoado com outras tantas. “And I’ve missed a lot of life, but I’ll recover, though I know you really like to see me suffer/Still, I wish that you and I’d forgive each other” – isso é um trecho de “Petals”, do Rainbow . No início do meu sucesso, eu estava enclausurada. Eu era como uma Rapunzel em um castelo mantido longe do mundo, então eu não me sentia famosa. Eu apenas sentia como, “OK, eu vou lá quando eles me disserem que é hora de ir cantar, e então eu voltarei aqui pra casa”. O começo da minha carreira foi sombrio, porque eu estava cercada por todos que eram muito mais velhos do que eu, e eu não tinha permissão para me divertir. Os garotos grandes estavam sempre no controle.
Então você realmente quis dizer isso em Butterfly, toda a conversa sobre finalmente ser livre.
Eu realmente quis dizer isso nesse álbum. Ainda me lembro das sessões de gravação e de como vivia indiretamente através da música, porque ninguém estava lá para me dizer: “Você não pode fazer isso de forma criativa. Você não pode se expressar dessa maneira”. E foi o que eu fiz. Eu lutei por isso por tanto tempo. Eu pude trabalhar com o Bone Thugs-n-Harmony em uma música como “Breakdown”.
Adorei que você citou essa música em “With You”.
“Breakdown” é uma das minhas canções favoritas. Apenas a estratificação dos vocais e trabalhar, particularmente, com Krayzie Bone – seu estilo, seu fluxo, apenas sua cadência. Eu estava tão inspirada por eles. Eu escrevi minha parte, e então eles vieram e fizeram a parte deles, e nós montamos isso juntos, mas eu nunca teria sido capaz de ter aquele momento experimental em um álbum antes disso. Foi difícil o suficiente fazer “Fantasy”, porque todos estavam contra isso.
Você sempre teve ótimas colaborações em seus álbuns. Como você veio a trabalhar com Dev Hynes na nova música “Giving Me Life”?
Eu estava sentada com Jay-Z e Tyran, da Roc Nation, e estava contando a Jay uma visão que eu tinha para o álbum, e disse: “Existe alguém em quem você consiga pensar para trabalhar nesse caminho?” Ele falou comigo sobre Blood Orange, e então eu conheci Dev e me apaixonei por ele. Eu trabalhei com ele aqui na Electric Lady. Ele veio ao estúdio, e eu fiquei tipo: “Eu só quero trabalhar desde o começo até a conclusão dessa coisa”. Muitas vezes, produtores ou colaboradores não entendem o que eu quero dizer quando digo que quero estar lá desde o começo. Dev entendeu melhor que ninguém. E assim, até mesmo o padrão de bateria, estávamos trabalhando juntos do zero. Há um som de sintetizador em “Giving Me Life” que é a minha coisa favorita. Apenas ressoou comigo. E foi uma sensação no estúdio. Não era como alguém tentando se mostrar ou fazer qualquer coisa além de estar imerso na música.
Por causa da sua importância musical, é difícil conseguir que as pessoas sejam casuais com você no estúdio?
Sempre foi uma luta, mesmo quando comecei a fazer minhas primeiras demos, e ainda não havia contrato de gravação. Eu ficava tipo, “Você pode colocar as cordas aqui”, ou “Você pode fazer a bateria dar uma quebrada aqui?” Quando você é uma adolescente trabalhando com o que parecia ser pessoas mais velhas – que tinham 25 ou 30 anos – e era o estúdio deles, eles são as figuras de autoridade. Eu estava produzindo, mas não percebi que isso era estar produzindo.
O que faz uma canção soar como uma música de Mariah para você?
Eu não sei como definir isso. Eu recentemente comecei a pensar tipo “Oh, eu acho que é muito minha cara fazer essa parte aí”. Será um la-la-la ou um shoo-do-do ou um da-da-da-da -da. Eu não faço isso para soar como uma música de Mariah, e eu amo colaborar com as pessoas, mas nos raros casos em que eu cantei as músicas de outras pessoas, eu não gostei. Teve uma música da Disney que eu gravei há cinco, seis anos atrás chamada “Almost Home”, e eu nunca gostei muito dela. Sem ofensa para quem a escreveu, e eu fiz isso porque a Disney queria que eu fizesse, mas não me sentia como sendo eu mesma, de forma alguma.
Algumas de suas músicas soam bem melosas – como você consegue dosar entre bom e o ruim disso?
Depois que eu escrevi “Hero”, por um tempo eu fiquei tipo “Ugh, essa música é tão grudenta, eu não aguento mais”. Tommy [Mottola] disse, “Oh, tem esse filme, e Luther [Vandross] vai cantar uma música, e a Gloria [Estefan] também vai cantar uma música. Você quer escrever a canção para Gloria?” Eu disse: “Legal”, e então eu saí, fui ao banheiro, voltei, e eu inventei a melodia e a letra – [canta] and then a hero comes along– ao mesmo tempo. Eu acho que não teria escrito essa música para mim. Tem uma grande melodia que na verdade só veio a mim quando eu estava indo ao banheiro.
Mas você, claro, acabou gravando a canção e é um dos seus maiores sucessos. Como você impediu que ela se tornasse muito traiçoeira?
Não há modulação nessa música. Se tivesse uma modulação, seria muito mais grudenta. O que importa para mim com essa música é que as pessoas realmente responderam a isso, e muitas pessoas que estavam passando por momentos difíceis sentiram algum alívio com ela. Eu sabia que era melosa, mas agora, anos depois, vejo como as pessoas em um concerto respondem a isso mais do que qualquer outra música.
Quais as reações no seu corpo, nos pulmões, para acertar as notas que você consegue atingir?
É uma coisa muito física. Se eu dormir uma boa quantidade de horas, tiver alguns dias de folga, ficar exposta a umidade, e ir lá e realmente me apresentar com força e uma voz completa no peito, isso é um sentimento. Há muita energia e muito poder que isso tem. Tudo está vindo através desta área [aperta sua garganta], mas tudo vem do diafragma e vai até aqui [traça uma linha no peito].
Dói atingir o registro do apito?
Quando está no seu melhor, não faz mal. Há duas veiculações diferentes dessa parte da minha voz. Há a voz do Apito “Vision Of Love” e depois há “Emotions”, com essas partes altas no final. Eu lembro do produtor David Cole, que faleceu. Ele era uma das únicas pessoas que eu costumava ter no estúdio quando eu cantava porque eu o respeitava como cantor. Ele me empurrou em diferentes áreas onde ele poderia realmente cantar para mim e eu ficava tipo, “Oh, isso é legal. Eu gosto disso”. Se você ouvir a música “Emotions”, foi ele dizendo “Você pode fazer isso. Tente isso”. Na metade das vezes, eu perderia a voz depois porque ele simplesmente me forçava.
Você parece se divertir interpretando o papel da diva. É um personagem?
Quero dizer, olha, é parte de mim. Se você vai se arrumar e fazer um show, por que não apenas se divertir e ir até lá?
Dê-lhes um pouco de exagero!
Nós amamos um pouco exagero. Eu tentei por tanto tempo que as pessoas soubessem que eu sou uma pessoa real e não essa coisa de diva que eles tentaram criar sobre mim, ou essa pessoa inacessível de anos passados. Mas no final do dia, ninguém se importa. Eles realmente não. Eles vão ter sua percepção de você.
Você virou meme algumas vezes e foi transformada em GIFs. Você vê essas coisas?
Alguns delas sim. É o que é. Você tem que abraçar isso.
Mesmo quando você diz a coisa mais simples, como “I Don’t Know Her” sobre Jennifer Lopez, ela se transforma em um meme interminável.
Eu realmente estava tentando dizer algo legal ou não dizer nada. Eu realmente estava.
Isso deve ser estranho, tudo está sendo dissecado dessa forma com você.
Eu tento ficar longe disso porque você não pode se afogar nessa coisa. Não sei como as pessoas lêem comentários o tempo todo e depois sobrevivem.
Como você sobreviveu? Eu pergunto porque muitos dos megastars que apareceram um pouquinho antes de você, como George Michael e Whitney Houston, não conseguiram.
É realmente um ótimo sistema de apoio e trabalho com pessoas que entendem e tentam criar um bom ambiente. Espero que essas pessoas também entendam que o estresse é realmente um assassino. Quando perdemos alguns dos nossos grandes astros, isso realmente me prejudicou, como alguém que cresceu assistindo e sendo inspirado por eles. Você mencionou George Michael. Eu me lembro antes do meu primeiro álbum, mesmo no colegial, o álbum Faith, eu olhei para ele e disse: “Eu quero fazer um álbum que cruze todos esses gêneros”. Nós tínhamos muitas coisas em comum em termos de política de gravadora. Eu me lembro desse jantar que tivemos. Nós dois estávamos conversando sobre coisas realmente difíceis pelas quais passamos. E quando ele faleceu naquele Natal, eu não pude acreditar porque achei que ele seria capaz de ficar bem.
Sempre houve essa ideia no público de uma rivalidade com você e Whitney, e quando vocês acabaram colaborando em “When You Believe”, se tornaram grandes amigas.
As pessoas tentaram criar uma rixa no começo, e eu entendi isso, mas eu sempre reconheci o quão brilhante ela era como cantora. Quando nos conhecemos e trabalhamos juntas, passamos ótimos momentos. Nós rimos constantemente. Nós reconhecemos que é um negócio, e isso é assim mesmo. Eu entendi ela. Eu não sei. Eu só sei que o Whitney que eu conheci era alguém que eu estava ansiosa para sair e me divertir. Ela era divertida e ela era real.
Você tem alguns dos fãs mais leais do pop, e recentemente eles colocaram a trilha sonora do Glitter no primeiro lugar do iTunes, 17 anos depois de seu lançamento. Você ficou surpresa com o status cult de Glitter?
Eu gosto da trilha sonora de Glitter, mas evitei por anos.
Por quê?
Porque isso representou um momento em minha vida quando eles quase me mataram.
O que quase te matou?
Eu estava deixando a Sony, eu estava lutando todos os dias com meu ex-marido [Tommy Mottola], que ainda administrava o selo, e então eu estava em um novo selo. Nós lançamos o Glitter em 11 de setembro de 2001, e foi um momento muito ruim. Nós tivemos altos e baixos.
O que o fracasso te ensina?
Quer saber? Se o fracasso significa que o single mais vendido de 2001, que foi “Loverboy”, de Glitter…
Foi o single mais vendido de 2001?
Huuummm… Eu não estou brava com isso. Representa um momento. Demorei muito tempo para abraçá-lo, mas estou bem com isso.
Mas qual o sentimento do que parece um fracasso aos olhos do público? Isso é humilhante? Você quer se esconder debaixo das cobertas?
Definitivamente, esconder-se debaixo das cobertas. Eu já sou humilde. Eu era um alvo fácil. O filme era horrível, mas havia outras pessoas com filmes piores que ninguém dava importância. E eu não acho que as pessoas estivessem prontas para um retrocesso dos anos 80. Eu estava um pouco à frente da curva com isso. Eu não sou uma pessoa que pensa que sou melhor que qualquer um, ou maior, ou mais santo do que fulano, não é nada disso. É só que você tem que dizer: “OK, bem, isso não funcionou, como eu vou me provar depois disso?”.
O que significa sucesso para você agora, com um álbum como Caution?
Os tempos [mudaram]. Eu não posso esperar que isso vá vender 30 milhões, como o Music Box. É tão diferente agora. Sempre foi assim, como se eu tivesse que provar algo para mim e para o mundo. Eu tinha que provar que eu era boa o suficiente para estar viva.
Estar viva? Você pensou isso?
Sim.
Até quando você se sentiu assim?
Eu não sei se parei de pensar nisso.
Parece que você está mais plena hoje em dia. Você está?
Eu sou quando posso ser. Quero dizer, sempre há coisas estressantes, mas eu amo estar no estúdio. É minha coisa favorita. Eu gravei a maioria dos vocais de Caution em casa, em Los Angeles. Eu fiz um estúdio equipado em casa, porque eu tenho uma cabine vocal especialmente feito pra mim. É pequeno, mas é rosa e preto com borboletas. É muito fofo, e eu montei em uma sala e trabalhei lá somente com o engenheiro de som. E não havia mais ninguém por perto.
Há uma frase em “Portrait”: “Still the same hopeful child haunted by those severed ties pushing past the parasites”. É isso mesmo. Há uma pessoa em mim que ainda precisa ser fiel à garotinha que tinha muita fé, esperança, crença e ambição. Uma necessidade de continuar criança. E eu tenho que amar o que estou fazendo.
Fonte: The Pitchfork