Na capa do álbum, Mariah mostra uma mulher que sabe que o público quer um artificio – estar retocada é só um artificio, ao contrário das cirurgias plásticas.
Primeiro álbum de estúdio e Mariah Carey desde 2009, Me. I Am Mariah … the Elusive Chanteuse, se tornou algo a mais para falar o que ela tem feito nos últimos anos. Não é que estejamos discutindo a sua música (que não pode ser julgada como ruim no fim das contas). A conversa ficou focada no título – que, compreensivelmente, gerou um blog como um dos piores títulos de álbum de todos os tempos – e também como a pior foto de capa.
A foto da capa parece de um anuncio de perfume – usando um maiô dourado, com a cabeça empinada para cima, Carey posa contra o pôr do sol, ilustrado com o nome: “Me. I am Mariah”. Seria o estilo de diva glamourosa estendida com o excesso de Photoshop. Carey perdeu cerca de 20 quilos com os retoques, transformando-se em uma mulher com curvas, uma mulher de mentirinha. Quando ela pareceu na TV norte-americana na semana passada, havia um grande contraste entre a pessoa e a capa do CD, que acabou dando abertura para o Daily Mail perguntar: “Você acorda assim, Mariah? Carey está muito longe de ser aquela pessoa da imagem que foi muito retocada”, que também gerou bastantes comentários negativos na notícia.
Na verdade, a primeira coisa que pensei foi: Por que ela faria isto? A encantadora Carey é tão surpreendente, que é difícil entendermos o seu raciocínio. Sim, em uma sociedade patriarcal realmente é exigido que uma mulher de 44 anos de idade, que já vendeu mais de 220 milhões de discos se comporte como uma adolescente. O último disco de Carey foi o menos bem sucedido de sua carreira, então aqui ela está pronta para mais um. E sim, ela não quer entrar na competição para concorrer com mulheres de meia-idade, pois há jovens cantoras no espelho do retrovisor e seu carro. Apesar disto, eu achei que ela fosse muito poderosa, e que realmente estive muito consciente que poderia ter feito algo que não agisse de forma contrária.
Então, isto ocorreu – é tipo uma mulher forte, fazendo o que ela tem que fazer. Em um clima onde até os olhares de cantores de ópera são analisados, Carey sempre tem sido proativa. Embora pudesse ter feito algo natural, deixou que os comentários negativos sobre o seu peso a atingisse. Ao ter sido emagrecida na capa do álbum, ela está usando os mesmos recursos que os cantores masculinos usam quando eles querem explorar suas joias. Ela sabe que a vulnerabilidade feminina está sempre sendo explorada no mundo da música – a foto da capa do álbum é a sua verdadeira armadura.
É muito melhor mudar a sua imagem digitalmente do que fazer uma cirurgia plástica. No fim, mostrou um caminho para as artistas femininas do pop satisfazerem seus fãs, dando expectativa de como eles deveriam te olhar. Se formos analisar, existem histórias muito cabeludas de mulheres que fizeram abdominoplastia logo após de darem a luz e muitas outras cirurgias plásticas. Carey, que tem um casal de gêmeos de 3 anos de idade, e não fez isto. Mas ela está ciente de quando se lança um cd, o público quer um mundo de fantasia, uma espécie de O Mágico de Oz, onde a realidade está atrás da cortina.
Seus fãs, que foram batizados de “Lambily” (ela não poderia tê-los chamados de algo mais sensível, como os Mariahonetes?), estão conscientes dos retoques. E até mesmo devem estar se envergonhando dela. Condenando a sua decisão, algo que não é diferente destas revistas de fofocas que estão sempre criticando as celulites das celebridades.
Mas no quesito que mais conta, Mariah Carey não é falsa. A sua voz, que é uma das maiores maravilhas do pop, ainda é real. Além disto, quem liga para isto mesmo?