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Sinopse do enredo da Unidos da Tijuca para o Carnaval de 2017

Esta é uma história de ficção livremente inspirada no encontro entre Pixinguinha e Louis Armstrong, acontecido em 27 de novembro de 1957, no Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro – quando o então presidente Juscelino Kubitschek convidou diversos músicos e artistas para um almoço com o jazzman norte-americano que se apresentava no país.

Enredo: “Música na alma, inspiração de uma nação”.
Show: Sapucaí in Concert – a história da música norte-americana!
Com Pixinguinha e Louis Armstrong.
Direção Geral: Fernando Horta
Direção Artística: Mauro Quintaes, Annik Salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo.
Produção: Fernando Costa
Roteiro: Marcos Roza
Realização: Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Tijuca

Sinopse

A arte e a linguagem da música são os laços que unem dois grandes gênios instrumentistas: Pixinguinha e Louis Armstrong. Nossa história vislumbra-se pela sensível sonoridade de seus instrumentos, suas vozes e pela espontaneidade criativa da essência da alma do povo americano.

Trazem-nos os acordes da eternidade do tempo, do templo da música, onde seus expoentes se acumulam e os seus destinos tornam-se canções… Aqui, seguem em desfile e Pixinguinha recebe Louis Armstrong para um memorável e inédito show:

Sapucaí in Concert – a história da música norte-americana.

Seja bem-vindo, Louis Armstrong. Toque da forma que sente dentro do peito, a nossa música não tem fronteiras. Cante, conte… Sua história interessa ao mundo e a todas as esferas da vida brasileira.

Primeiro set: a voz musical das suas heranças.

Meu caro Pixinguinha…

Tudo começa com a ritualização das canções de trabalho dos negros escravos em cânticos de louvores (spirituals) – que sobreviveram à dor e ao lamento e revelaram a purificação da alma e o seu estado de sofrimento.

Com o fim da Guerra Civil e a Abolição da Escravatura, sob o discurso de unificar a nação , congregando pessoas de diversas culturas e origens, os negros emancipados migraram para as cidades e, com eles, levaram os seus costumes musicais que infundiram, ao que cantavam ou tocavam, uma vitalidade e um caráter muito peculiares.

Nesse contexto, adotaram uma forma poético-musical individualizada, impressa na descontinuidade melódica de profanas canções, à qual chamaram de blues.

As concepções musicais afro-americanas que surgem no Delta do Mississipi e percorrem uma longa estrada numa constante evolução… inspiram-me!

Fazem com que me lembre daqueles primeiros tempos de Nova Orleans… Revivo as brass bands – que, entre outras ocasiões, tocavam durante os cortejos dos funerais.

Na ida, seguiam cadenciadas em homenagem ao falecido, e, na volta, “marchavam”, tocando música para os vivos ao ritmo de um som alegre – como que se evocassem a ancestralidade de seus músicos.

A esfuziante genialidade das brass bands, com ritmo swing misturado ao ragtime – uma música tipicamente executada por pianistas, exuberantemente alegre para dançar –, caracterizava o jazz, em seus primórdios.

Rendo-me à improvisação rítmica incandescente do jazz… E, em homenagem a todos os seus grandes músicos, instrumentistas e intérpretes, toco-o, desafiando o tempo, assim como tocava, em pé e ao vento, sobre a proa de um barco a vapor deslizando sobre as águas do rio Mississipi, empunhando meu trompete aos céus!

E é a partir do blues, jazz e da música gospel, com seus estilos e formas, que surge uma integração musical por diversos caminhos com resultado artísticos idênticos ou semelhantes e até diferentes, em busca de uma identidade.

Segundo set: as baladas de um cowboy.

A experiência jazzística leva-me a cruzar fronteiras e a criar laços históricos. Meus pistons se unem ao violino, ao violão e ao velho conhecido banjo e configuram a música country americana.
Ouça, Pixinguinha, esses acordes: eles evidenciam a fusão das baladas folclóricas europeias e dos cantos dos cowboys do sudoeste americano com a música oriunda dos negros. Sua pauta segue atrativa ao estilo que se caracteriza por tons graves e canções que descrevem o cotidiano rural. Siga-me e também a esse som nítido e brilhoso, sugerindo a “potência e a ternura” da música country – que seguiu fases de sucesso com programas de rádio e conquistou o universo musical americano, tendo, como uns dos seus maiores expoentes, Wille Nelson e Dolly Parton [a Dama do Country].

Terceiro set: o toque freedom of speech, transpõe os limites da cor da pele e embala-nos com a trajetória “alucinante” do rock and roll.

Pixinguinha…como consequência natural dos estilos musicais norte-americanos – que se aproximam e se fundem–, deixemos que o rock preencha o nosso imaginário e os espaços de forma intuitiva.
Gritemos pela verdade! Os jovens se “cobrem de coragem” e seus desejos afloram de uma música underground tocada por homens investidos de deuses (ou por deuses investidos de homens).

O rock celebra a irreverência performática dos primeiros músicos roqueiros – Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee Lewis –, cruza os palcos americanos e coroa seu rei: Elvis Presley.

Mas, enquanto o público pede bis – a música soul traça um paralelo…um som da negra raiz, um instrumento de apoio à luta pelos direitos civis.

E o rock? Segue arrastando legiões de fãs e surfa no “lirismo comportamental” das ondas do beach rock da Califórnia…sua “loucura eletrificada” serve de banquete aos estridentes sons de suas bandas e tudo se mistura. No contexto social, sua evolução parece diabrura – uma espécie de liberdade: Woodstock! E suas guitarras transcendem a rebeldia e a candura, inscrevendo-se na psicodélica poesia da contracultura.

Quarto set: a personificação da música no teatro e no cinema. 

Pixinguinha, a história segue… Rejo as clássicas canções de George Gershwin e Cole Porter, músicos compositores que deram sempre e tanto poder de criação e vida às interpretações dos musicais de sucesso da Broadway. A partir de seus conteúdos artísticos, sigo narrando a magnificência do realismo fantástico dessas belas histórias destinadas à dramatização da música no teatro. Contudo, o canto, a dança e a melodia emergem da memória afetiva como poesia do saber, afinal, foi cantando “Hello Dolly” – que tudo isso fez parte do meu ser.

Das telas de cinema,
Eu ouço e vejo:
A música esculpir os desejos.
Em foco! Ela encena,
Contracena com a emoção.
Com o mundo sem fronteiras,
Ou uma doce ilusão?
A música é o artigo definido de uma paixão
Que se revela, entre o pranto e a alegria,
E conforta o coração.

E assim, ao longo das décadas, muitos filmes tiveram suas exibições consagradas. Em alguns casos, tão originais, as músicas foram feitas especialmente para determinados personagens ou histórias. E sob a verdade dessas canções: “cantavam na chuva”, “embalaram-se sábado à noite” e tudo parece não ter fim…

Louis Armstrong, tudo é tão belo, único, singelo…e, no futuro, qual será seu elo?

Pixinguinha, caberá ao tempo esse feito, da sua forma e do seu jeito, importando, da essência da música, a tradição e o respeito. Cabe-nos olhar para frente, com a certeza de que a nossa música estará sempre presente…

Quinto set: a inspiração é pop. 

Assim como outrora a convivência entre os povos gerou novas variedades de músicas, assim também, espontaneamente, – a técnica e a riqueza fonográfica – a que seguiram o rádio e a televisão – levarão magníficas composições, videoclipes, shows e revelarão ao mundo novos reis e rainhas do universo musical americano.

Já pressinto e até ouço a música norte-americana tecnologicamente vestida de uma explosão de cores e efeitos, acrescendo sua história… Cruzando novos portais, entre o gueto e a cidade, misturando tradição e modernidade… Funk é Brown e sua batida groove é poder! E nessa levada, tramando as palavras, o movimento hip-hop terá muito a dizer: versando a verdade nua e crua, proferindo sem distorcer, a poesia que vem das ruas, como rima do saber.

Pixinguinha, não se recuse a crer: que para além dessas batidas criarão efeitos eletrônicos – forjando a herança da Motown – e Deus sabe lá o que vai acontecer! Mas ouvindo a música da minha alma, me arrisco a prever: sons inovadores que ousadamente deslizarão sobre as pistas de dança ao calor da juventude –disco, discotheque – embalados pelos hits de Donna Summer, serão os tempos da brilhantina, tempos de sedução e prazer.

O passado é remixado ao futuro e, a cada década, um novo cenário. Ray Charles, Aretha Franklin, Mahalia Jackson, Frank Sinatra, Robert Johnson, BB King, Diana Ross, Earth, Wind & Fire, The Commodores, Jackson Five, Marvin Gaye, Stevie Wonder, Barry White, Lionel Richie aos hits e performances da música pop de Michael Jackson, Prince, Madonna, Whitney Houston, Jennifer Lopez, Mariah Carey, Britney Spears, Ke$ha, Lady Gaga, Justin Timberlake, Beyoncé – são muitos, muitos nomes que fizeram, fazem e farão da música norte-americana um universo infinito de estilos, astros e estrelas.

Ouça, amigo Pixinguinha, todos pedem bis…

Seja daqui pra lá, e de lá pra cá, o seu saxofone une-se ao som do meu trompete!

É, Louis, a música norte-americana é o porta-voz mais poderosa e eloquente de seu povo – ouvida em todas as partes do mundo. Hoje é coroada à celebração da alma, às raízes de um povo, ao sucesso de uma balada… Sapucaí in Concert é a inspiração, é o ritmo da nossa batucada.

Comissão de Carnaval: Mauro Quintaes, Annik salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo.

Pesquisa e texto: Marcos Roza

Agradecimentos: André Ferreira, Beni Borja, Cynthia Figueira, Melissa Coutinho, Ricardo Cravo Albin, Sérgio Vasconcelos e a todos que contribuíram com ideias, dicas e apoio para esta iniciativa.

Glossário:

Beach Rock – gênero musical, gravado por grupos de vocais femininos e/ou jovens surfistas, popularizado como “o som da Califórnia”.

Blues – gênero musical que surgiu, por volta de 1870, no Sul dos Estados Unidos, a partir das canções de trabalho dos negros escravos.

Brass-bands – tradicionais bandas de Nova Orleans, que seguiam em carroças e animavam carnavais, casamentos e funerais.

Brown (James Brown) – músico americano considerado o “Papa” da música soul e “Avô” do gênero musical funky americano.

Disco – um gênero de música e de dança, que atingiu o sucesso em meados da década de 1970.

Freedom of Speech – liberdade de expressão.

Funk – gênero musical afro-americano, que surgiu nos idos de 1960.

Gospel – forma moderna do spiritual blues, canção religiosa dos afro-americanos.

Groove – forte batida, geralmente, executada por músicos baixistas ou sintetizadores.

Guerra Civil – conflito que ocorreu nos Estados Unidos da América de 1861 a 1865 e colocou o Sul e o Norte do país em lados antagônicos.

Hello Dolly – musical da Broadway, que estreou em 1964, com a participação musical de Louis Armstrong.

Jazz – gênero musical afro-americano, criado nos fins do século XIX e início do século XX, em Nova Orleans.

Motown – é a gravadora americana, fundada em 12 de janeiro de 1959 por Berry Gordy Jr., na cidade de Detroit, mais importante para os artistas negros e seus gêneros musicais.

Nova Orleans – cidade do estado da Louisiana, que revelou o jazz como gênero musical aos Estados Unidos.

Pop – no contexto do enredo pop está correlacionado às inovações tecnológicas e à globalização da música norte-americana.

Set – abreviação da palavra setting, as partes de um show.

Soul – gênero musical afro-americano, surgido nos anos de 1960, sob o conceito de conscientização e orgulho da nação negra norte-americana.

Underground – termo usado para classificar uma cultura ou um gênero musical que foge dos padrões conhecidos pela sociedade.

Woodstock – um dos maiores festivais de rock, realizado em agosto de 1969, na cidade de Bethel, no estado americano Nova York.

Bibliografia consultada:

AUGUSTO, Pellegrini. Jazz das Raízes ao Pós-Bop; Códex, 2004.
BERENDT, Joachim-Ernst. O livro do Jazz: de Nova Orleans ao século XXI; tradução, Rainer Patriota: Perspectiva, 2014.
BILLARD, François. No Mundo do Jazz; Companhia das Letras, 1990.
CABRAL, Sérgio. Pixinguinha: vida e obra; 1977.
COLLIER, James Lincoln. Louis Armstrong; tradução, Ibanez de Carvalho Filho: Globo, 1988.
FRIEDLANDER, Paul. Rock and Roll – uma história social; tradução, A. Costa: Record, 2006.
SABLOSKY, Irving L. A Música Norte-Americana; tradução, Clóvis Marques: Jorge Zahar, 1994

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